No último dia 24 de janeiro, Ca-pão Bonito completou 178 anos de fundação.
A data consta no brasão do município, 24 de janeiro de 1843.
Foi a data da promulgação da Lei Provincial n. 3, quando houve a autorização do Governo Imperial para a transferência do povoado de Freguesia Velha para a região onde se localizava a extensa Fazenda Capão Bonito, local de entroncamento de passagens de tropeiros domésticos, de mangueiras e currais para invernadas. No arquivo digital da Assembleia Legislativa de São Paulo encontra-se o processo legislativo da lei que autorizou a fundação do município, no entanto, devido aos manuscritos da época quase ilegíveis, a transcrição deste documento será um árduo trabalho. Uma figura importante na fundação da cidade, o Padre Joaquim Manoel Alves Carneiro, foi um dos responsáveis pelo pedido de transferência da Capela da Vila de Nossa Senhora da Conceição do Paranapanema para o novo local.
Em Capão Bonito, este Padre era filiado ao Partido Liberal, oposicionista do Partido Conservador. Junto com ele constava como eleitores deste partido, Joaquim José Soares dos Anjos, José Pedroso de Queiroz, João José de Queiroz, José Soares de Almeida e Antonio Luiz do Nascimento.
Entre os eleitores governistas do Império, estavam o Cel. José Ignacio Ferreira e João Gabriel Ferreira entre outros, conforme noticiava o jornal “Aurora Paulistana” de 17/11/1852, que era editado pelo partido conservador.
Provavelmente, um dos fundadores da cidade, o Padre Joaquim Manoel, por ser eleitor do Partido Liberal, tinha adesão aos ideais abolicionistas em contraponto aos adeptos do partido conservador, que faziam defesas para manter a escravidão no país.
O Padre Joaquim é citado pelas andanças que fazia pela região de Iguape, tendo notícias que benzeu a fundação da Capela de Jacupiranga por volta de 1838 e de que fez, em 1849, como Vigário Encomendado da Freguesia de Paranapanema, casamento no bairro Pescaria, em Itapetininga.
Em trabalho intitulado “Condições Sanitárias e as Epidemias de Varíola no Paraná – 1853-1889”, de Marcia Terezinha Andreatta, cita-se que o “jornal Dezenove de Dezembro, em 1864, publicou que o Dr. José Murici foi solicitado em Ponta Grossa para proceder a exumação do reverendo Joaquim Manoel Alves Carneiro, devido à suspeita de envenenamento.”
“O Dr. Murici procedeu a autópsia, extraindo as vísceras principais do falecido padre, as quais foram acondicionadas em quatro frascos remetidos ao chefe de polícia da corte para um exame científico. Na Província não havia condições satisfatórias para a realização dos exames por falta de recursos e local apropriado.”
“O juiz municipal de Ponta Grossa remeteu junto com os frascos três bolsas de palha, com dez embrulhos, contendo várias substâncias, algumas das quais foram reconhecidas como venenosas pelo dentista William Bentom.”
“O próprio jornal Dezenove de Dezembro noticiou, tempos depois, as conclusões a que chegaram os médicos da corte, Antonio José Pereira das Neves e José Francisco de Sousa Lemos, encarregados dos exames das vísceras do padre de Ponta Grossa. Não foi constatado nenhum índice de envenenamento mineral; quanto à existência de veneno vegetal, nada podiam afirmar, devido ao avançado estado de putrefação em que se encontrava o material a ser analisado.”
Terminamos aqui mais um capítulo de Histórias e Causos, hoje falando da fundação da cidade de Capão Bonito e do Padre Joaquim Manoel Alves Carneiro.
Rafael Ap. Ferreira de Almeida, advogado