José Renato Nalini é Reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo
Costuma-se dizer que ocorrem hoje mais desastres “naturais”. Errado. Não são naturais. São provocados.
Desde pelo menos a década de setenta do século passado a ciência vem advertindo a humanidade insana de que seus hábitos de consumo deveriam passar por uma severa transformação, caso se pretendesse prolongar a aventura existencial sobre este maltratado planeta.
Ninguém ouviu. Quem poderia fazer a diferença não quis fazê-la. O resultado é que hoje não é mais a ciência quem fala. É a própria natureza. Com sua indignação, com seu furor, com sua legítima revolta.
As perdas econômicas e sociais derivadas de inundações, deslizamentos, tempestades, ondas de calor e elevação do nível do mar são imensas. O governo federal indica perdas de quase quinhentos bilhões com essas ocorrências. Quantia consideravelmente menor poderia ter sido investida em precaução e prevenção.
É urgente que as cidades tenham um diagnóstico de prioridades e cuidem de assegurar que vidas não serão ceifadas quando vierem os fenômenos extremos. Estes virão, é indubitável.
Não se pode mais alegar ignorância. As evidências estão aí e não é difícil prever que populações vulneráveis, que ocupam área de risco, serão as mais atingidas. É preciso coragem para desalojar quem se estabeleceu em região de mananciais, à margem de represas e de córregos, quem construiu em declive e corre risco de vida.
Planos de contingência constituem hoje obrigação para cada município. Não se deve esperar que o socorro venha do Governo Federal ou Estadual. É na cidade que as pessoas vivem. E os Prefeitos devem pensar em seus munícipes. As verbas precisam ser destinadas a salvar vidas e não para obras suntuosas ou desnecessárias.
A cidadania precisa estar atenta e cobrar de seus vereadores a atenção que as emergências climáticas merecem. Ninguém hoje pode invocar surpresa, quando episódios como aqueles que afligiram os gaúchos vierem a acontecer. Não se indaga mais “se” eles ocorrerão. Só podemos indagar é “quando” eles mostrarão que com a natureza não se brinca.
Chegou a hora de acabar com a irresponsabilidade. Agora é atuar para que não haja mais vítimas de nossa incúria. A natureza não tem nada com isso. Ela é vítima também.