José Renato Nalini é Reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo
O discurso é um, a prática é outra. Descarbonizar o mundo é uma urgência negligenciada. São Paulo continua a acolher mil e quinhentos novos veículos por dia. A qualquer horário, as vias públicas estão coalhadas de carros e caminhões, motos e ônibus alimentados a combustível fóssil, reconhecido veneno.
Para atenuar o efeito das emissões letais de CO2 e demais partículas que acabam com a saúde e abreviam a morte, é preciso reprimir o tráfego veicular. Mas como fazer?
Um passo importante seria impedir que frota antiga continuasse a circular livremente. Quem já não viu caminhões expelindo fumaça preta?
A frota nacional de caminhões é antiga. Mais da metade, ou, exatamente, 55% dos caminhões em atividade já têm mais de 14 anos de uso. Se houvesse uma renovação da frota mais velha, a redução de quantidade de emissão de poluentes seria de, no mínimo, 33,5%.
O melhor, no plano ideal – e, infelizmente, utópico – seria investir no transporte ferroviário, que o Brasil já teve mas que exterminou, ao estatizar empresas como a Companhia Paulista de Estradas de Ferro, um paradigma de organização e eficiência, convertida em sucata assim que se transformou em Fepasa.
Quase duzentos mil motoristas se utilizam de caminhões obsoletos, ultrapassados e perigosos para a saúde. A renovação da frota propiciaria inúmeros ganhos, seja para o motorista, seja para a logística nacional. Há 1.290 milhão de caminhões rodando pelas estradas e carregando 65% da carga nacional. Mais da metade, como visto, muito antiga. Se houvesse renovação daqueles fabricados em 1999 por outros, produzidos em 2023, a natureza agradeceria e, mais do que isso, vidas seriam poupadas.
Fala-se em plano de incentivo para a renovação da frota. Mas, no Brasil, a preponderância está no mundo das ideias. Somos frágeis em execução. Enquanto isso, a conurbação excessiva faz com que a quase totalidade das pessoas esteja exposta às emissões malignas dos veículos velhos, ultrapassados, ineficientes e ainda sujeitos a episódios que atrapalham o trânsito e prejudicam o fluxo contínuo de transporte de carga.
Alguma ideia melhor do que a renovação paulatina da frota, já que a substituição total chegaria a cerca de R$ 1,160 trilhão?