Plantas daninhas resistentes a herbicidas, ou seja, uma planta que possui capacidade de se desenvolver e reproduzir após a aplicação de um herbicida que foi fatal para todas as outras plantas da mesma espécie tem sido visto com um dos principais problemas enfrentados no campo.
O primeiro relato de uma planta daninha resistente a um herbicida foi da espécie Com-melina difusa (trapoeraba), que ocorreu nos EUA em 1957.
Em 30 anos já eram conta-bilizadas mais de 100 espécies resistentes em cerca de 40 países (Heap, 1997).
Nem toda planta que não morre com a aplicação de herbicida adquiriu resistência, existem também as plantas tolerantes a herbicidas específicos, que se podem definir como a habilidade natural de uma espécie em sobreviver e se reproduzir depois da aplicação da dose recomendada de um produto em que outras espécies seriam satisfatoriamente controladas. Como exemplo tem-se as espécies trapoeraba (Com-melina spp.) e corda-de-viola (Ipomoea spp.) que são tolerantes ao glyphosate, não significando que sejam resistentes.
De acordo com pesquisadores da ESALQ e da Agrocon, foram verificados diversos novos casos de resistência no Brasil nos últimos oito anos, como das espécies capim-amargoso (Digitaria insularis), buva (Conyza sumatrensis), capim-branco (Chloris polydactyla), caruru palmeri (Amaranthus palmeri) e capim-pé-de-galinha (Eleusine indica) que são resistentes ao glifosato. Também foram encontrados biótipos de espécies resistentes a grupos (mecanismo de ação) de herbi-cidas que não eram observados no Brasil até o momento, além de ocorrências no Cerrado de espécies resistentes a mais de um grupo de herbicidas (resistência múltipla).
O desenvolvimento de resistência por uma planta é devido a diversos fatores, mas principalmente à pressão de seleção imposta pelo herbicida, pois a diversidade genética natural é a responsável pela resistência, ou seja, numa população de plantas existem indivíduos resistentes e suscetíveis (que são controlados pelo herbicida), e com a aplicação de produtos de efeito residual prolongado; aplicações repetidas várias vezes por anos consecutivos do mesmo produto e também de doses acima do recomendado, além do manejo exclusivo com herbi-cidas, favorecem o desenvolvimento das plantas resistentes.
Os grupos de herbicidas que possuem os maiores números de biótipos resistentes registrados são os inibidores de ALS (isoxaflutole, clomazone, mesotrione) e inibidores do fotossistema II (propanil, diuron, tebuthiuron, atrazine e metribuzin) sendo considerados grupos de risco.
O uso intensivo do glifo-sate, devido a seu uso intensivo, às aplicações em soja RR (transgêncica), à baixa contaminação ambiental e animal, alta eficiência de controle, entre outros, pode resultar em alto risco potencial, mesmo não sendo o herbicida que mais facilmente seleciona resistência, tem se tornado o caso de maior preocupação. Na tentativa de evitar ou minimizar o surgimento de biótipos resistentes é importante que o produtor utilize algumas práticas como a rotação de culturas e de herbicidas de diferentes grupos químicos, bem como a mistura destes, utilizar outros métodos de controle como o mecânico e biológico em situações que permitam utilizar sementes certificadas, aplicar sempre a dose recomendada, estar alerta para plantas que “escapam” do controle e eliminá-las antes que se reproduzam, recarregando assim o banco de sementes.
Profa. Dra. Maria Renata Rocha Pereira – Engenheira Florestal, Doutora em Agronomia na Unesp. Professora do Curso de Silvicultura na Fatec Capão Bonito, ministrando as disciplinas Proteção Florestal e Produção e Biologia de Sementes.