Não é tarefa nada fácil escrever sobre o saudoso pesquisador Milton Alcover, tamanha a grandeza das contribuições que prestou durante toda sua vida de pesquisador à agricultura dos estados de São Paulo e Paraná.
Sem o espírito científico, humanista e determinado de Al-cover, provavelmente o estes Es-tados não teriam a agricultura diversificada e avançada que possui atualmente, nem poderiam se orgulhar de suas altas taxas de produtividade.
Milton Alcover não foi apenas o responsável pelo desenvolvimento da primeira variedade de planta desenvolvida pelo Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) – uma cultivar de trigo, denominada Mitacoré ou Iapar 1. Ou seja, a primogênita das quase 90 variedades de diferentes espécies que o instituto desenvolveu ao longo de seus quase 30 anos de existência.
Não foi apenas isto. Ele foi mestre e formou toda uma geração de pesquisadores que, como ele, também são obstinados e acreditam no potencial de produção de trigo nacional.
Para a região Norte do Paraná, que até 1975 conhecia quase exclusivamente as culturas de café e milho, Milton Alcover surgiu, mesmo diante da tragédia irreparável da histórica geada de 17 de julho, como uma tábua de salvação para o futuro econômico de toda uma região.
Era ele, com voz tranquila e firme, que apresentava as alternativas para a atividade agropecuária com a substituição dos cafezais pela cultura do trigo no inverno em sucessão com a soja.
Milton Alcover defendia e acreditava, com absoluta convicção, que o Brasil poderia vir a ser autossuficiente na produção de trigo. Seu discurso desafiava mui-tos escalões de governo da época. Mas a produção foi viabilizada com variedades genuinamente nacionais, desenvolvidas e adaptadas às condições do nosso país. E, sobretudo, nisso, Alcover foi um grande vencedor.
É da presença desta figura ímpar, como ser humano e como pesquisador, que pesquisadores sentem falta e muita saudade depois de quase 20 anos de seu falecimento.
Milton Alcover, morreu em 1999, aos 85 anos, em Londrina.
A família apontou como causa a morte natural. Ele ainda em vida recebeu o título de cidadão honorário de Londrina pelos serviços prestados à comunidade. Também ocupava a cadeira 25 da Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina.

Grande trabalho na
Estação Experimental
em Capão Bonito
Alcover nasceu em Santos (SP), em setembro de 1914, e formou-se engenheiro agrônomo pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) na cidade de Piracicaba, na turma de 1937. Apesar da idade e da aposentadoria, Milton Alcover era considerado um homem ‘‘viciado’’ em trabalho.
‘‘Fico 25 horas ligado’’, afirmou ele em entrevista ao jornal Folha de Londrina. Além de pesquisas na área de plantas medicinais, ele dedicou seus últimos dias a estudos sobre o analfabetismo.
Antes da atuação do IAPAR, o pesquisador trabalhou durante 35 anos no Instituto Agronômico de Campinas (IAC) ligado a Secretaria Estadual da Agricultura do Estado de São Paulo, um dos mais importantes do País.
Lá, desenvolveu diversos trabalhos importantes, como a criação do trigo IAC 5-Maringá, uma variedade com melhor produtividade e alta tolerância a doenças que foi minuciosamente pesquisado e desenvolvido por anos na Estação Experimental, atual Polo de Desenvolvimento do Agronegócio de Capão Bonito onde Alcover atuou por anos e cidade onde deixou raízes de filhos e netos.
O sucesso do IAC 5 foi tão grande que o produto chegou a países como México e Austrália e até os dias atuais é considerado a grande descoberta que estimulou a produção de trigo no país.
“É muito gratificante saber que o trabalho desenvolvido em terra capão-bonitense pelo dr. Milton, especificamente na antiga Estação Experimental, dá uma grande contribuição ao desenvolvimento da agricultura de nosso país”, disse o prefeito Marco Citadini.
Outro trabalho importante feito nesta época pelo pesquisador desenvolvido também em Capão Bonito foi um programa voltado para a pequena indústria familiar, através da fabricação de embutidos, defumados, doces, sucos e outros produtos. Boa parte dessa experiência ele levou para o Paraná.