A sociedade do cansaço e a ilusão de que todos devem estar felizes sempre

Uma pesquisa do instituto YouGov envolvendo cerca de 1,7 mil pessoas em 2022, concluiu que um em cada oito adultos britânicos se sente cansado “todo o tempo”, enquanto outros 25% estão exaustos “na maior parte do tempo”. Essa sensação de cansaço constante, é o tema do livro “A sociedade do cansaço”, do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, que explica como a enfermidade está acometendo a sociedade.

De acordo com os conceitos de Han, o cansaço é uma resposta do corpo para o excesso de positividade e cobrança que a sociedade impõe. O autor reflete em sua obra, a falsa ideia de que todos devem estar felizes e bem-sucedidos o tempo todo, produzindo no indivíduo a ansiedade de ter que explorar a sua condição de homem livre, resultando no sentimento de culpa quando não consegue. Ou seja, essa ação não o deixa feliz, ao contrário, o deixa muito menos feliz.

A busca desenfreada pela excelência leva a um novo tipo de depressão. A pessoa não está deprimida por estar isolado, mas por estar muito conectado, livre e ativo. “O cansaço de esgotamento não é um cansaço da potência positiva. Ele nos incapacita de fazer qualquer coisa. O cansaço que inspira é um cansaço da potência negativa, a saber, do não-para”, diz o autor em seu livro.

Segundo Han, a negatividade do não-para é também um traço essencial de contemplação. “Na meditação zen, por exemplo, tenta-se alcançar a negatividade pura do não-para, isto é, o vazio, libertando-se de tudo que aflui e se impõe. Assim é um processo extremamente ativo, e algo bem distinto que passividade. É um exercício para alcançar em si um ponto de soberania, de ser centro. Se possuíssemos apenas a potência positiva, estaríamos, ao contrário, expostos de forma totalmente passiva ao objeto. A hiperatividade é paradoxalmente uma forma extremamente passiva de fazer, que não admite mais nenhuma ação livre”.

A violência não provém apenas da negatividade, mas também da positividade, não apenas do outro ou do estranho, mas também do igual. Baudrillard aponta claramente para essa violência da positividade quando escreve sobre o igual: “Quem vive do igual, também perece pelo igual”.

Han ainda aponta que o excesso de positividade se manifesta também como excesso de estímulos, informações e impulsos, modificando radicalmente a estrutura e economia da atenção. O autor prega a necessidade de retornar a um cansaço mais consciente, que se recupere depois de uma noite de sono. Segundo ele, isso é possível reavaliando a vida contemplativa dedicada aos momentos de fazer nada longe de tecnologias. “Evitar o apelo urgente do mundo. Renovar as barreiras que delimitam as vaidades contemporâneas, não significa ser menos livre, significa ser mais autêntico”.

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