Nos últimos anos, o assédio no ambiente de trabalho tem ganhado cada vez mais atenção nas empresas de todo o Brasil. Apesar do aumento das iniciativas para combatê-lo, surge uma questão fundamental: as organizações estão verdadeiramente engajadas em eliminar essas práticas ou apenas mantendo uma imagem de preocupação?
“Infelizmente, o que muitas vezes se observa é que as empresas criam programas de combate, mas esses não se mostram eficazes na prática. É preciso ir além das aparências. O combate ao assédio deve ser genuíno, e não apenas uma questão de imagem”, alerta o advogado especializado em Direito do Trabalho, Dr. Guilherme Fernando de Almeida Moraes.
Para entender melhor o que está em jogo, é necessário distinguir os tipos de assédio que ocorrem no ambiente corporativo. “O assédio moral é caracterizado por comportamentos repetidos que buscam humilhar ou desestabilizar emocionalmente o colaborador”, explica Dr. Guilherme.
Já o assédio sexual, embora também seja repetitivo, envolve avanços de cunho sexual indesejados, como propostas ou insinuações, sem a necessidade de contato físico. “Não é preciso que haja um toque físico, gestos ou palavras já são suficientes para configurar assédio sexual”, complementa o advogado.
Esses comportamentos prejudiciais não só afetam o bem-estar das vítimas, mas têm sérias consequências para as empresas, como a queda na produtividade, aumento do absenteísmo e, em casos extremos, a perda de talentos. Dr. Guilherme alerta que a falta de uma resposta firme pode resultar em processos trabalhistas e danos à reputação da empresa. “Se as empresas não lidam com o assédio de maneira eficaz, elas estão expostas a riscos legais graves, danos irreparáveis à sua imagem, além de poderem perder grandes talentos”, enfatiza.
Os números que envolvem casos de assédio são alarmantes. Entre 2020 e 2023, mais de 400 mil processos envolvendo assédio foram registrados, com um aumento expressivo nas alegações de assédio sexual. “Esses números são apenas a ponta do iceberg. O assédio é um problema subnotificado, especialmente quando o agressor é um superior hierárquico”, diz Dr. Guilherme.
A dificuldade de denunciar, a vergonha e o medo de retaliações ainda são barreiras para muitas vítimas. Para enfrentar esse problema, as empresas precisam adotar uma abordagem estruturada e consistente. Tatiana Gonçalves, CEO da Moema Medicina do Trabalho, destaca que é essencial que as empresas estabeleçam regras claras e eficazes para prevenir o assédio.
Entre as medidas mais eficazes estão: políticas claras e estruturadas: “As empresas devem criar regimentos internos que definam claramente o que caracteriza o assédio e as consequências para quem violar essas regras”, sugere Dr. Guilherme.
Canal de denúncias confidenciais: a criação de canais de denúncias anônimos é essencial. “As vítimas precisam de um espaço seguro para relatar o ocorrido sem medo de represálias”, observa Tatiana Gonçalves.
Treinamentos constantes: a realização de treinamentos regulares é fundamental. “Líderes devem ser capacitados para identificar e lidar com situações de assédio”, afirma Dr. Guilherme. A inclusão de treinamentos sobre diversidade e inclusão também ajuda a criar um ambiente mais respeitoso.
Monitoramento e auditorias internas: a realização de auditorias periódicas ajuda a identificar áreas mais vulneráveis ao assédio e a garantir a efetividade das políticas implantadas.
Apoio às vítimas: “O apoio psicológico é fundamental para a recuperação das vítimas de assédio”, destaca Dr. Guilherme. Além disso, é crucial garantir que não haja retaliações contra aqueles que denunciam.
A recente atualização das normas, como a Lei 14.457/22, trouxe mudanças significativas no combate ao assédio nas empresas. “A legislação agora exige que as empresas tenham regras claras sobre assédio e violência no ambiente de trabalho, além de canais de denúncias e punições para os infratores”, explica Tatiana Gonçalves.
A prevenção do assédio no trabalho é uma responsabilidade compartilhada por todos os níveis hierárquicos. Com políticas claras, canais de denúncia eficazes e campanhas de conscientização, é possível criar uma cultura de respeito e um ambiente de trabalho mais saudável, que atenda não apenas às obrigações legais, mas também à ética e ao bem-estar de todos os colaboradores.