A lenda do “Brasil cordial” desmoronou. O país é socialmente problemático, para dizer o menos.
Desigualdades sociais e de nível educacional acumuladas durante mais de três séculos de escravagismo, com proibição de imprensa própria e de criação de universidades, causaram erosão nos laços de enraizamento e de adequada formação de identidade coletiva. A Constituição Cidadã de 1988, pródiga em direitos – mencionados 76 vezes, enquanto “deveres” aparecem apenas em 4 oportunidades – gerou expectativas que o Estado não tem condições de satisfazer.
Para culminar, uma crise sem precedentes, mais séria do que o grande “crack” da Bolsa de Nova York em 1929, precipita as coisas. Insatisfação coletiva, falta de alento, falta de perspectiva, ausência quase absoluta de esperança. A matriz jurídico-institucional está alicerçada numa Justiça concebida como poder capaz de decidir todos os problemas, independentemente de sua dimensão. O fetiche da lei ainda vigora e não tem receita para as práticas sociais de natureza confrontacional registradas para perplexidade de muitos que não viram o mundo mudar, nem as alterações da sociedade brasileira se aprofundarem. A verdade é que o Estado do bem-estar social não tem como atender a todas as demandas. Como bem observa o pensador Ives Gandra, “o Brasil dos sonhos não cabe no PIB”. Por sinal, PIB que só tem diminuído nos últimos anos e em queda acelerada nos últimos meses.
Os formadores de opinião têm uma enorme responsabilidade neste momento. Quase 12 milhões de desempregados, só considerados os que ainda continuam à procura de emprego. Milhares de fábricas fechadas, centenas de milhares de casas de comércio. Famílias passando necessidade e nenhuma certeza de que um milagre ocorrerá e fará com que esta página triste seja virada, para uma leitura mais otimista de um Brasil que sofre. Reclama-se prudência, juízo e dose infinita de paciência. Quem se dispõe a oferecer uma alternativa?
José Renato Nalini, secretário da Educação do Estado de São Paulo