Um dos casarões mais bem conservados da cidade está no perímetro urbano que concentra, talvez, o maior número de construções antigas de Capão Bonito. A bela residência, muito bem conservada pela família Gomes, chama a atenção pelo estilo neocolonial bastante característico. Esse tipo de casarão com arquitetura que remonta ao Brasil colonial, consiste em uma construção em formato quadrado ou retangular buscando simetria, fachadas grandiosas, colunas (muitas vezes ornamentadas) e divisão de cômodos no interior. Para evitar que a residência ficasse com pouca luz natural elas eram construídas com pé direito alto e pequenos vitrôs de sobre as portas internas que permitiam que a luz se espalhasse pela casa. Esses vitrôs na verdade se chamam bandeiras, e podem ser observados nas portas de entrada do casarão. Outra característica desse estilo arquitetônico são as altas portas e janelas que neste caso estão protegidas com grades de ferro. As portas de folha dupla são de madeira encimadas com duas bandeiras, sendo a mais alta com motivo vazado e entrelaçado. Tantos as portas como as janelas apresentam esquadrias tradicionais com verga em arco abatido, um tipo de ornamento ou decoração cada vez mais raro hoje em dia. Outra característica destas casas, que são inspiradas na arquitetura portuguesa, é o embasamento. Ele consiste em uma base da construção que tem a função de nivelar e sustentar a estrutura da construçãos e pode ser feito de diferentes matérias. Quando a mostra, em geral são de pedra e, no caso da residência Gomes, ele se eleva a quase um metro de altura e apresenta uma textura de chapisco grosso cuja cor é a mesma da moldura que envolve as janelas e as duas portas de entrada- um tom escuro de rosa quartzo.
A bela construção está localizada na rua Silva Jardim e muitos especulam acerca de usa idade e sua origem. Alguns dizem que a casa foi habitada pelas irmãs Jardim. Segundo dona Isabel Sacco, existiu de fato uma família Jardim na zona rural de Capão Bonito. No documento mais antigo achado durante essa pesquisa consta a data de 1931 cujo comprador era Francisco Rodrigues
Jardim e sua esposa Gertrudes Rodrigues Jardim, e o vendedor era Paulino José Xavier e esposa Rita Xavier de Oliveira. Não se sabe a partir de quando a casa passou a pertencer ao viúvo italiano João Arcanjo de Oliva. Sabemos que foi doada por ele em 1948 ao seu genro Amantino Cezario de Oliveira Ramos, comerciante e oficial de registro de hipoteca, casado com Maria Angelina
Ramos. Amantino e Maria tiveram duas filhas: Filomena Ramos Freitas e Maria Ramos Barreto. A primeira casou-se com o cirurgião dentista Péricles Freitas e o casal passou a morar na casa da direita, número 562, onde nasceu dona Isabel Sacco, filha do casal e fundadora da escola Waldorf Vale Encantado, segunda escola antroposófica fundada no Brasil. Maria Ramos Barreto casou-se com Faustino Cesarino Barreto – ex-prefeito de Capão Bonito – e faleceu jovem, deixando órfãs suas duas filhas: Maria Angelina Barreto e Isaura Barreto, mãe de Maria Bernadeth Gomes Faia, cujas filhas, residiram no casarão até recentemente. O imóvel foi passado para as irmãs órfãs sob a tutela do pai, Faustino. Segundo a história oral, João Grande, como era conhecido o belo homem dos olhos azuis, veio da Itália e aqui casou-se com uma viúva de muitas posses. Morava numa extensa área chamada Mangueira Velha, cuja casa sede ficava onde hoje é o encontro entre a av. Governador Lucas Nogueira Garcez e a rua das Pitangueiras. Durante a invasão das tropas gaúchas que saquearam a cidade em 1932, houve uma fuga da população para outras cidades ou para a área rural, mas João Grande recusou-se a fugir por julgar que, por ser italiano, nada sofreria. Ao escolher ficar, enfrentou a ira dos soldados e assistiu à destruição de tudo o que tinha construído: sua casa, as plantações de azeitona e castanhas, entre outras, incluindo uma videira e os tonéis de vinho que produzia. Por conta dos ferimentos e o choque que sofreu, ficou cego, perdeu parte da audição e não pode mais andar. A partir de então precisou de constantes cuidados, que recebeu justamente de suas bisnetas, tendo sido elas portanto, as principais herdeiras dos seus bens, entre eles, o casarão da rua Silva Jardim. Este é mais um exemplo de imóvel que preservou suas características e que contam histórias. Se você tem alguma história para contar sobre alguma construção da cidade, escreva para: veronica.volpato@gmail.com