Final da mineração no interior do estado de São Paulo

“o véu melancólico da tristeza paulista”
(Paulo Prado)

Para o escritor e memorialista Roberto Pompeu de Toledo, em sua obra que trata do município de São Paulo, mais precisamente a capital do estado, sempre foi um tanto melancólica desde sua origem até os primórdios do século XX, anos 1900 que era chamado de “belle époque”, poderíamos periodizar de Anchieta a Mário de Andrade
Segundo Toledo, logo que a Coroa de Portugal escolheu o Rio de Janeiro como a capital da colônia deixando São Paulo como uma capitania autônoma, por volta de 1765, o governador geral conhecido como “Conde da Cunha” (Antônio Alves da Cunha), 1° governador do Rio de Janeiro, escreveu ao rei em Lisboa, referindo-se a São Paulo como “uma capitania tão larga e tão distante desta, com habitantes excessivamente inquietos e revoltosos, em território abundante de minas de ouro e nas vizinhanças dos castelhanos”.
Devemos considerar que os espanhóis não davam trégua no sul, pois viviam contestando as fronteiras e também fustigavam as minas de ouro do estado.
Na capital paulista havia mais mulheres do que homens, pois estes buscavam as minas que ainda restavam pelo interior de São Paulo, pelo estado de Minas Gerais, Cuiabá e Goiás, as quais já se encontravam praticamente esgotadas na segunda metade do século XVIII. Na região de Capão Bonito a situação era crítica desde 1746, só havia faisqueiros que não queriam aceitar a decadência do ouro, época do segundo povoado na Freguesia Velha. Muitos garimpeiros se retiraram.
A oportunidade do momento era o comércio de burros e gado bovino; muares que vinham do sul até Sorocaba para serem negociados e muitos iam por São Paulo e Minas Gerais.
O desfile dos tropeiros mudou a paisagem antes ocupada por carroças com carregamentos de ouro quando atravessavam São Paulo percorrendo até o Rio Paraíba a fim de embarcar o ouro no Porto do Rio de Janeiro para Portugal.
Agora era a vez dos tropeiros que movimentavam Sorocaba quando “rebentava” a feira quase sempre em agosto. São Paulo nessa época era uma capital constituída por famílias de casais que se uniam muito jovens e que havia muitos filhos ilegítimos, segundo Pompeu de Toledo. Muitos maridos ficavam no interior à cata do ouro ou negociando animais em suas fazendas e as mulheres ficavam sós na capital. Isso fez com que aumentasse o número de crianças bastardas filhos de uniões fora do matrimônio. Eram crianças chamadas de “expostas”, ou seja, indesejadas pelos pais, frequentemente pela mãe solitária, eram abandonadas na porta de uma família rica, na Santa Casa ou na “Roda dos Expostos”, uma roda giratória onde depositavam as crianças; giravam e eram recebidas do outro lado sem saber quem as depositou. Tais crianças eram registradas com o pré-nome: “exposta” acrescido do nome de quem os adotou.
São Paulo cresceu, porém era castigada por “severas” epidemias de sarampo, disenteria, varíola (bexiga). “Quando nu-ma casa pendurava-se à porta um cobertor de barra vermelha, era sinal de que ali havia um bixiguento.” (Toledo)
O ano de 1780, segundo o citado autor, foi o auge da epidemia, quando o bispo da cidade Dom Manuel da Ressurreição pediu que trouxessem da Penha a imagem de Nossa Senhora tida como milagrosa, para o centro da cidade pedindo ao céu para dar cabo dessa doença, a peste, que “nenhuma força da terra era capaz de conter”.
Veio a procissão da Penha à Sé trazendo a imagem que ficou ali na capela do centro para atenuar o medo, o luto, no dizer de Paulo Prado: “O véu melancólico da tristeza paulista.”
Assim foi São Paulo, “tão pobrinha” como versejou Vinícius de Moraes no poema “Pátria Minha”… Felizmente hoje, nossa capital transformou-se em uma das maiores e progressistas cidade do mundo.

MSc. Alice Elias Daniel Olivati
Docente de Comunicação Empresarial Geral em Agroindústria, Silvicultura e Gestão Empresarial (EaD, Mediadora Presencial) Doutoranda em Educação na Universidade de Sorocaba.

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