Maio Laranja: a importância do combate à exploração e abuso sexual contra crianças e adolescentes

O Maio Laranja surgiu em decorrência a um caso brutal que aconteceu em 18 de maio de 1973, em Vitória, Espírito Santo, no qual, uma menina de oito anos chamada Araceli, foi sequestrada, drogada, violentada e assassinada. Os três réus acusados pelo crime foram absolvidos em 1991.

No ano 2000, com a aprovação da Lei Federal 9.970/2000, o dia 18 de maio foi constituído como o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. A data tem como intuito mobilizar a sociedade brasileira a combater a violação dos direitos infanto-juvenis.

De acordo com os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2023, 61,4% das vítimas de estupro no Brasil têm até 13 anos e 10,4% têm até 4 anos. Das informações citadas, 70% dos agressores são conhecidos das vítimas.

Embora o problema seja grave, ainda é um desafio fazer com que as pessoas abordem sobre esse tema. Para a psicóloga Thamires Costa, quando um trauma como o abuso sexual acontece, o mais comum é o estabelecimento do tabu; não se fala sobre o assunto, como uma forma de negar a existência do ocorrido e suas consequências. “Por essa razão, a vítima ainda que conte a alguém, é sempre incentivada ao silêncio – “vamos esquecer esse assunto e seguir em frente” – não falar sobre o abuso sexual de crianças e adolescentes é benéfico somente para aqueles que praticam esse tipo de ato. No silêncio fingimos que nada está passando, o que é uma mentira, os números de vítimas de abuso revelam essa realidade”.

Segundo a especialista, é necessário falar e debater sobre o tema, a fim de construir estratégias de prevenção e permitir que as vítimas possam se sentir acolhidas e não julgadas por algo que não tiveram nenhuma responsabilidade.
“É importante salientar também, que quando falamos de abuso sexual de crianças e adolescentes, precisaremos falar sobre uma cultura machista que objetifica o corpo feminino e silencia e constrange meninos que também são vitimados”, disse a psicóloga.

Esse é mais um dos casos de uma das vítimas de abuso sexual, L.Z., de 30 anos, que não quis se identificar, mas ao ser questionada sobre como aborda seu caso, concorda que a falta de acolhimento e apoio é muitas vezes o que a impede de falar sobre o trauma para outras pessoas. “Sofri um abuso sexual aos 7 anos de idade e até hoje sofro com esse trauma. Desconfio de tudo e de todos e evito falar sobre o assunto. Já ouvi muito, “mas você ainda não superou?”, como se passar por esse tipo de situação fosse algo fácil”, declarou uma das vítimas.
As consequências psíquicas de quaisquer eventos traumáticos ocorridos na infância irão depender de como o ambiente (família, escola, sociedade) em torno da criança lidou com o trauma.  “Caso ocorra uma falha ambiental e a criança não encontre lugar para o próprio trauma, haverá sem dúvida uma dor que não pôde ser simbolizada e que ficará retida no psiquismo infantil, influenciando a vida emocional do adulto”, explicou a psicóloga.

Através da campanha Maio Laranja, criamos uma abertura para se falar sobre o assunto. “A campanha se refere também à educação sexual de crianças e adolescentes, ou seja, informá-los sobre os limites do próprio corpo e a reconhecerem situações de perigo onde são orientados a pedir ajuda. Isso faz toda a diferença, pois o terreno para a possibilidade de um trauma como o abuso acontecer se dá diante do desconhecimento das vítimas sobre seus corpos e seus direitos”, completou.

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