José Renato Nalini é Reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo
O Brasil é especialista em fabricar desertos. A cobertura vegetal exuberante que existia em todos os biomas, foi gradual e crescentemente sacrificada. Fala-se em extermínio diário de tantos campos de futebol e continuamos inertes, como se isso não nos dissesse respeito. Só que a natureza está cobrando a fatura. As ondas de calor, as precipitações pluviométricas violentas, seguidas de estiagem e de escassez hídrica são a resposta do ambiente vilipendiado.
Detemos a receita para mitigar a situação. Mas não nos valemos dela com a insistência e consistência necessárias. De que adianta existir infinidade de organismos, entidades, grupos, institutos, se não ganhamos escala? A construção civil continua célere, inundando as cidades de edifícios ambientalmente incorretos, não deixa um centímetro quadrado de solo para a água se infiltrar.
Temos excesso de planos – por exemplo, Plano Clima, Plano de Transformação ecológica, Programa Nova Indústria Brasil, Plano Amazônia: Segurança e Soberania – AMAS e se fôssemos relacionar todos os planos existentes nas três esferas da federação e no Terceiro Setor, estaríamos inundando o país com uma tonelagem de textos inócuos.
Conservar e restaurar florestas é uma política humanitária da maior urgência. Todos dependemos da natureza. Mais da metade do PIB global está condicionado pelos serviços ecossistêmicos. Em todos os lugares, em todas as cidades deste imenso Brasil, a população precisa levar a sério a urgência de se formar mais florestas urbanas e de recompor aquelas que ainda possam existir, ainda que sejam em áreas exíguas, remanescentes do massacre a que a arborização foi submetida durante séculos.
Incentivar as pessoas a colherem sementes, fazerem mudas, formarem viveiros e se voluntariarem para plantar árvores em todo espaço de terra que ainda existir, que tenha sobrevivido ao asfalto e ao concreto. É o compromisso com as futuras gerações, que – se porventura conseguirem subsistir – terão todas as razões para nos julgarem com toda a severidade. Como é que tudo isso acontecia e nada fizemos para reverter o quadro melancólico de extinção da vida neste frágil planeta azul?