Nove estados do Brasil estão sob alerta de baixa umidade

Médicos chamam atenção para riscos à saúde

 

A baixa umidade relativa do ar e as queimadas registradas na Amazônia, Cerrado e Pantanal têm reduzido drasticamente a qualidade do ar em várias cidades do país. Conforme monitoramento da IQAir, empresa de tecnologia da qualidade do ar, São Paulo registrou o maior nível de poluição do mundo nos primeiros dias desta semana, e a projeção é que o problema continue nas próximas semanas.

Em um ranking dinâmico das metrópoles mais poluídas, a capital paulista aparece em primeiro lugar nas primeiras horas da manhã, com o indicador de qualidade do ar em 179 – quanto mais alto, pior. São Paulo aparece à frente de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, Karachi, no Paquistão, e Kinshasa, na República Democrática do Congo.

De janeiro até esta última segunda-feira (09), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou 159.411 focos de incêndio, um aumento de 100% em relação ao mesmo período de 2023. Apesar de estarem concentrados na Amazônia (52%) e no Cerrado (33%), a fumaça atingiu 60% do país no último final de semana.

Os três estados com mais incêndios neste ano são os mesmos de 2023: Mato Grosso, Pará e Amazonas. No ano passado, Pará era o estado com mais focos, por exemplo, mas a dimensão do fogo aumentou. A fumaça das queimadas tomou grande parte do país, inclusive o Sul e o Sudeste, e se espalha por Peru, Colômbia e Equador, alerta o pesquisador de sensoriamento remoto Henrique Bernini.

A situação se prolonga por alguns dias, nota-se que até em cidades do interior de São Paulo, as cinzas das queimadas do Norte mudaram a cor do céu. A seca que ameaça grandes rios como o Madeira e o Paraguai também afetou a maior metrópole do país: o Pinheiros, que corta a capital paulista e apresentou aspecto verde por receber menos água dos seus afluentes. O abastecimento nos reservatórios da Sabesp, da Grande São Paulo, despencou desde o início do outono, que marca o início do período mais seco na região. Três dos sete reservatórios estão com menos da metade de sua capacidade.

Conforme os dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), os índices de umidade relativa do ar chegaram a ficar em nível semelhante ao do deserto do Saara em 200 cidades, – o que demanda atenção redobrada em relação às doenças respiratórias.
“A baixa umidade atua como fator irritativo das nossas mucosas, contribuindo para o desenvolvimento de quadros de rinite, sinusite, bronquite, asma e laringite”, explica a Dra. Cristiane Passos Dias Levy, otorrinolaringologista do Hospital Paulista e especialista em alergias respiratórias.
Nesse contexto, o calor em excesso, a poluição e alguns hábitos equivocados são fatores que nos tornam ainda mais vulneráveis. “A falta de hidratação, o uso de indiscriminado de descongestionantes nasais, o tabagismo e até mesmo a prática de exercícios físicos, dependendo do horário e local, são aspectos agravantes e que jamais podem ser ignorados”, alerta a especialista.
Dessa forma, a adoção de uma rotina mais criteriosa é a melhor forma de evitar tais desconfortos. A começar pela ingestão regular de água, que seria a dica mais elementar em termos de prevenção a todas essas doenças.
“O ideal é beber, em média, oito copos de água ao longo do dia, principalmente nos intervalos de exercícios físicos ou quando se faz o uso da voz com muita intensidade, como é o caso de professores, radialistas e outros profissionais que dependem da comunicação oral”, enfatiza Dra. Cristiane.
Evitar hábitos que potencializem a irritação das vias aéreas é primordial, ou seja, fumar e fazer atividades físicas entre 10h e 16h (quando a umidade é menor) e uso contínuo de descongestionante nasal. “Tudo isso contribui para um ressecamento ainda maior das nossas vias aéreas, além de potencializar eventuais problemas cardíacos. Portanto, devemos evitar sempre”, observa a médica.
Mesmo dentro de casa, a especialista explica que esses meses de tempo seco requerem cuidados extras. “Nessa época do ano, é muito importante manter a casa ventilada e livre de poeira, por conta dos ácaros, principalmente. Deixar as janelas abertas sempre que possível e reforçar a limpeza de objetos como tapetes, cortinas e bichos de pelúcia é também essencial.”

Veja também