Walter Martins de Oliveira – Psicanalista e Doutor em Educação
Ao realizarmos este esforço de reflexão referente ao “Dezembro Vermelho e Laranja”, campanha que contempla o combate ao HIV/AIDS (Vermelho) e ao câncer de pele (Laranja), optamos pelo recorte “Dezembro Laranja”, evitando assim a prolixidade do texto. O leitor e a leitora atentos deste jornal, já sabem que o câncer de pele é o primeiro mais comum entre os homens brasileiros. A SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia), desde 2014, promove a campanha “Dezembro Laranja”, buscando conscientizar a população no que tange à prevenção, ao diagnóstico precoce e aos cuidados com a exposição ao sol, em vista do combate ao referido câncer. Os médicos alertam para os principais sintomas, a saber: pintas que mudam de tamanho, forma ou cor; surgimento de manchas que coçam, descamam ou que sangram. Ademais, há que ter atenção especial a feridas que não cicatrizam em quatro semanas. A literatura psicanalítica que, por sua vez, julga ser o inconsciente determinante na compreensão do comportamento e das escolhas do indivíduo, sem omitir a biomedicina, inclui o câncer de pele entre as doenças somáticas, ou seja, enfermidades cujas manifestações expressam conflitos psíquicos não elaborados, não elucidados, não resolvidos. Tais patologias (somáticas), resultam de forças inconscientes como memórias, agressividades, impulsos e desejos reprimidos, recalcados. Para Dias da Silva (2000), à luz da Psicanálise, a pele é utilizada para comunicar emoções inadmissíveis pelo sujeito de serem comunicadas pela palavra, ou então por meio de atitudes espontâneas. Portanto, depreende-se tratar de expressões de sofrimento e medo em expor sentimentos, indicando o papel da pele de “espelho da alma”. Nessa ótica, o câncer de pele simbolicamente pode indicar o exagerado desejo em ser visto, reconhecido e, ao mesmo tempo, a aflição em ser ferido ou injuriado nessa busca; metaforicamente, é como se fosse “queimado” por esse “sol”. Pode indicar inseguranças referentes à imagem corporal, apontando a dificuldade em aceitar o próprio corpo ou a relação deste com o mundo externo, manifestando a dificuldade com a autoimagem, conflito em mostrar-se ao mundo e sentimentos de vergonha, uma vez que a pele, intimamente ligada à identidade, faz-se como um “cartão de visita” para o sujeito. Diante disso, a pele pode expressar o grito do inconsciente por alguma coisa que o indivíduo não conseguiu verbalizar, ou seja, emoções reprimidas, não elaboradas, tais como culpa, raiva, ressentimento, ódio, autopunição. Todavia, em suma, a Psicanálise não pretende desconsiderar o tratamento médico, busca apenas proporcionar um lugar em que o sujeito consiga elaborar seus conflitos psíquicos. Ainda para Dias da Silva, tudo se resume no fato de o sujeito não ter sido amado de forma adequada, não apreendeu o autoamor e, por isso, não consegue amar. Em não conseguir amar, será infeliz, e o corpo, adoecido, por sua vez, dará vazão e comunicará ao mundo e aos outros o seu sofrimento, neste caso, através da pele. É neste ponto que a Psicanálise, ao trabalhar a Individuação, em muito pode contribuir auxiliando o sujeito em sua lida com o inconsciente. Nesse sentido, para além de sua individualidade, despertá-lo para sua humanidade, compaixão e respeito com o “outro”. Isto exige a conquista de uma consciência integral, o ajuste do “eu” com a totalidade de tudo o que existe. A individuação significa o desejo de autorrealização, de renascimento psicológico para oferecer o melhor de si ao “outro”, como pessoa inteira, maximamente equilibrada.