Na semana passada o município de Capão Bonito iniciou tratativas com o Ministério Público e com Secretaria Estadual de Saúde para implantar na cidade residências terapêuticas para receber moradores da cidade que ainda se encontram internados nos poucos manicômios existentes na região.
A medida faz parte do processo de desativação de hospitais psiquiátricos implantado pelo Estado e que já está em curso há anos e que visa alterar a forma de tratamento aos pacientes com problemas mentais para que estes sejam tratados em suas residências ou em locais específicos, mas no mesmo município.
Para a Secretaria Estadual de Saúde, a manutenção dos hospitais além de um grande custo, acabava originando um tratamento desumano aos pacientes com problemas psiquiátricos. Com o tempo foram desati-vadas várias unidades tradicionais em toda a região.
Um dos casos mais emblemáticos foi o Hospital Vera Cruz em Sorocaba que foi praticamente fechado com grande destaque pela mídia regional.
A intenção do governo estadual pode até mesmo ser boa, mas será que municípios, como o de Capão Bonito, podem absorver tal demanda?
Prefeitos de todas as cidades do país reclamam que os governos federal e estadual são especialistas em repassar tarefas e que tudo acaba ficando sobre os ombros dos municípios, embora estes não tenham condições financeiras de assumir mais compromissos, pois ficam com a menor parte dos altos impostos que são arrecadados dos brasileiros.
Gestores municipais ainda reclamam que parcerias com a União e o Estado geralmente começam bem com a transferência de recursos, mas com o decorrer do tempo as prefeituras não têm os valores de seus repasses corrigidos e acabam tendo que completar com recursos próprios, o que acaba se con-figurando num autêntico presente de grego.
Recentemente um auxiliar de enfermagem natural de Guapiara foi morto após sofrer um ataque de um paciente que estava armado de uma faca na cidade de Sorocaba.
Este fato mostra que o tema é complexo e exige uma estrutura considerável por parte do poder público municipal para dar o atendimento adequado.
Ao final fica a dúvida: será que o paciente ficará realmente melhor assistido em residências instaladas em cada município do que em hospitais psiquiátricos que podem ter a estrutura adequada para enfrentamentos das eventuais crises?
O que não pode acontecer, como tem ocorrido rotineiramente no sistema federativo brasileiro, é que União e Estado resolvam seus problemas próprios, mas não resolvam os problemas dos cidadãos.
Prefeitos temem que no recente caso das residências psiquiátricas mais uma vez os poderes mais fortes decidam sobre o tema para tirar deles a grande parte da responsabilidade e acabem passando a bola para quem não tem condições de dominar a questão.
E assim os dias passam e os cidadãos que seriam os maiores interessados acabam pagando a conta com serviço público de má qualidade.