A ascensão política de Donald Trump que, de empresário de sucesso à chefe de Estado de uma das maiores potências da economia mundial, causou no Brasil e em todo mundo um sentimento de apreensão e medo, que acabou por levantar diversas questões sobre a mecânica das eleições norte-americanas. Uma dessas interrogações, e de extrema importância, é o “produto da democracia”, ou seja, os líderes que estão sendo produzidos por esse sistema político.
Não é a primeira vez que a democracia coloca na liderança um personagem que traz dúvidas sobre o preparo que tem para governar, a história é repleta de exemplos destes tipos de líderes. Partindo da ideia de Platão que, a função do gover-nante é assegurar que o povo tenha uma vida digna, Trump representa para o mundo uma autoridade cheia de controvérsias e polêmicas, que não traz segurança em relação a esse princípio básico. Mesmo com essa inquietação quanto ao destino do país norte americano, a pergunta mais importante é: será que o novo presidente dos Estados Unidos tem habilidades, competências e conhecimento para chefiar uma grande potência mundial?
Em uma metáfora rabínica, que acentua a importância do preparo para exercer uma função, um paciente chega ao hospital e o cirurgião entende, após uma avaliação, que é preciso fazer uma intervenção. Na ocasião, não se espera que o profissional saia perguntando para as pessoas que estão nos arredores o que pensam sobre a decisão dele. O que se espera dele é que saiba exatamente o que deve ser feito.
Pode-se usar essa metáfora na política de forma muito contundente também. A população espera que o candidato que assumir o cargo saiba exatamente o que deve ser feito para o bem de toda a sociedade.
A vitória de um não político, como Donald Trump, é algo natural do mundo capitalista, em que empresários bem sucedidos se arriscam a serem dono da verdade das demais áreas, além daquela que gerou o seu sucesso. Na democracia, nada impede que isso ocorra, mas não garante que o vitorioso seja alguém capacitado para exercer o cargo.
Refletir sobre essa fragilidade e desgaste da democracia é de grande relevância para encontrar um outro sistema que aperfeiçoe o atual, que vem nos brindando com líderes desastrosos.
Ao sair de um período de guerra, na metade do século passado, com medo dos tiranos e para fugir da ditadura militar, acabou se criando uma democracia que continuou produzindo alguns líderes déspotas, que fizeram e farão o que bem entenderem ao chegar no poder. Escondidos atrás do voto popular, como se isso desse um salvo conduto para o eleito fazer o quiser em detrimento aos dispositivos legais e à vida digna que deveria entregar para a sociedade. E esse é um grande problema, porque governar tem o princípio do bem, mas precisa também da habilidade e competência técnica. A política é uma ciência.
Voltando para a metáfora utilizada do cirurgião e do paciente, é preciso que aqueles que se candidatarem para o cargo desejado apresentem em um processo seletivo competência e habilidade. Criar um mecanismo para selecionar os candidatos que atendam ao mínimo das exigências para se governar e, só posteriormente, liberá-lo para o voto popular é um pensamento lógico e coerente, para evitar falhas na democracia.
A população então só votaria nas pessoas que apresentarem as credenciais necessárias para exercer o cargo. Evitando muito dos dissabores da história, é verdade que não seria uma garantia total de um go-verno perfeito, mas traria uma realidade mais alinhada aos princípios éticos universalmente aceitos e com as necessidade da sociedade.
Donald Trump provocou uma discussão entorno do sistema democrático americano, mas não é o sistema democrático americano e sim a democracia em si que tem suas brechas. O ideal talvez fosse que cada país tivesse um colegiado para aprovar candidatos à carreira de governança.
E essas pessoas, de diferentes linhas de pensamentos ideológico e econômicos, estariam à disposição para o voto popular, sem preocupações se o eleito estaria, ou não, apto para governar uma nação.
Rabino Samy Pinto é formado em Ciências Econômicas, se especializou em educação em Israel, na Universidade Bar-llan, no Brasil concluiu seu mestrado e doutorado em Letras e Filosofia, pela Universidade de São Paulo (USP), é diplomado Rabino pelo Rabi-nato chefe de Israel, em Jerusalém, e hoje é o responsável pela sinagoga Ohel Yaacov