José Renato Nalini é Reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo
O Brasil enfrenta sua pior seca neste 2024. Ela já atinge cerca de sessenta por cento do território nacional. São Paulo já teve secas entre 2013 e 2014, mas agora vai piorar. Isso porque, além do ciclo que os negacionistas dizem ocorrer a cada onze anos, a situação da Guarapiranga é muito mais grave. Onze afluentes despejam nela, continuamente, esgoto in natura, substâncias químicas das indústrias regulares e clandestinas e toda espécie de imundície que a população descarta.
Isso faz com que a contaminação necessite de tonelagem de produtos tendentes a fazer com que aquele líquido empesteado volte a parecer água: incolor, inodora, insípida. Mas ela contém resíduos de antibióticos, antidepressivos, anticoagulantes, anticoncepcionais, cocaína e microplástico.
Tudo piora porque não cessa a ocupação para fins de moradia, que assoreiam as últimas nascentes, exterminam os remanescentes de mata atlântica e aumentam a carga de esgoto lançada ao reservatório do qual metade da população paulistana depende para sobreviver.
O problema precisa de um choque emergente, com a efetiva participação de todas as esferas de Poder e participação da Academia, da Universidade, do empresariado e da sociedade civil. A estiagem deste período é muito mais severa do que as anteriores e a circunstância agravante não está sendo considerada pela maioria dos responsáveis.
A situação mais preocupante é a do Estado de São Paulo, onde oitenta e dois municípios registram níveis angustiantes de seca. Mas a capital, onde se instalaram quase treze milhões de pessoas, é o território em que mais consequências trágicas de certo ocorrerão.
Todas as cidades precisam estar de sobreaviso e a população tem de assumir a liderança de um processo de conscientização do Poder Público, pois nem sempre se faz, com a urgência que se impõe, aquilo que é preciso para garantir água aos viventes.
Incrível o valor que se confere a esse veneno chamado petróleo, e a desimportância atribuída a esse líquido que, se vier a faltar, não haverá condições de sobrevivência. É aquilo que devemos respeitar, pois dependentes dele. A nossa insubstituível água.