Já pensou na possibilidade de ter uma vida sem smartphone? Que tal deixar de observar a vida alheia através das redes sociais? Como seria a nossa rotina com o descarte desse aparelhinho que praticamente se integrou ao nosso organismo?
E se fizéssemos um teste com a nossa rotina, nem que seja por alguns dias, sem o bendito celular? Para jovens é uma missão quase impossível: “Imagine ficar sem comer o lanche predileto via aiqfome”. E os grupos de Whatsapp e a enxurrada de FaKe News que manipulam as mentes fracas?
Hoje, a grande maioria dos humanos está no mundo digital, mas ainda há os alienígenas analógicos, e um deles é o meu pai, Gabriel Santana da Silva.
Nesses 40 anos, nunca tive a oportunidade de conviver tantos dias consecutivos e próximos ao meu pai. Quando criança, havia a rotina acelerada do seu ambiente de trabalho. Na adolescência, tive que estudar e trabalhar e com a vida adulta, a correria se multiplicou.
No fim de fevereiro, fui contaminado pela Covid-19 e sofri algumas complicações e o tratamento, com medicamentos e repouso domiciliar, durou praticamente 50 dias.
Apesar da agonia da doença, foi um dos melhores momentos da minha vida. Consegui, depois de quatro décadas, ter uma convivência diária e intensa com papai, um homem fantástico e raro diante da sociedade convulsiva em que vivemos.
Meu pai nunca teve celular e se informa a quase 70 anos pelos meios convencionais. Acorda bem cedo, toma uma colherada de azeite de oliva e um copo de limão rosa espremido.
Ele tem seu próprio quarto e dorme sozinho. Minto, tem duas companheiras: a Babi e Corujinha, as cachorrinhas que não desgrudam dele pra nada. Mas pela manhã, ficam no quintal para as devidas necessidades fisiológicas e enquanto isso, meu pai ajuda nas tarefas de casa: lava toda a louça da noite anterior, coloca o lixo para fora e deixa as embalagens plásticas todas separadas para a reciclagem.
Feito isso, é hora de regar e cultivar as pequenas plantas, algumas brotadas em vasos e outras que nasceram no pequeno vão do ambiente cimentado. E elas floresceram pela paixão do meu pai.
Na hora do rango, ele só utiliza o arroz preparado pela minha mãe, o resto é por conta própria. Tem pepino misturado com hortelã e por aí vai. Curte um jornalzinho do meio dia e não se esquece de alimentar as pombas que comem em suas próprias mãos, tamanha a intimidade.
Não se conforma com as atitudes do presidente da República na condução do enfrentamento à Covid-19 e se diverte com os capítulos da novelinha das seis.
Aos sábados, das 19 às 22 horas, os companheiros do Gabriel são o Rádio e o Carlos Chaves, do programa Éramos Jovens.
Essa é a vida paralela dos homens simples, sem sofisticação, mas que levam a vida como ela é, na sua essência.
Francisco Lino é jornalista e filho do Gabriel.