A semana que passou foi atípica para um fim de ano. O falecimento do ditador Fidel Castro e a tragédia aérea envolvendo a equipe do Chapecoense dominaram as mídias convencionais e, principalmente, as redes sociais nos últimos dias e acabaram jogando um balde de água fria na comemoração alviverde do título de campeão brasileiro de 2016 à Sociedade Esportiva Palmeiras, que carrega em sua certidão de batismo o nome de Palestra Itália.
Quem conhece a história da Palmeiras – uso a classificação feminina devido ao nome principal ser “A Sociedade Esportiva Palmeiras” – sabe da inseparável relação com a Itália e com seus imigrantes que vieram para o Brasil em busca de novas oportunidades.
O próprio clube alviverde teve como fundadores operários da antiga e então tradicional Indústrias Matarazzo, o italianinho abusado e empreendedor que ascendeu a chama industrial no país.
A mudança de Palestra para Palmeiras somente se efetivou devido à Segunda Guerra Mundial e o rompimento das relações diplomáticas na época entre Brasil e Itália. Caso contrário, até hoje, teríamos pales-trinos e não palmeirenses.
Para nós, corintianos, a rivalidade histórica com o Palestra é saudável e a mais tradicional. Até o próprio Santos Futebol Clube, um time grande construído fora da capital pau-lista, supera o São Paulo F.C. na competividade histórica com o Corinthians.
Disputar jogos contra o São Paulo não tem o mesmo sabor histórico que um Corinthians e Palmeiras, principalmente quando o jogo é naquela caixona de cimento feia e insalubre, que é o Cicero Pompeu de Toledo, ou simplesmente Morumbi.
O perfil do são-paulino é do torcedor mais frio e suntuoso, pois os torcedores tricolores se auto rotulam como se o time fosse uma espécie de Real Madri da Vila Sônia, tamanha é a vaidade.
A disputa Corinthians e Palmeiras vai muito além das quatro linhas. Tem poesia, tradição e muita história. Eu mesmo presenciei uma peculiar na minha adolescência.
Todos nós, então estudantes do antigo ginásio da escola Jacyra Landim Stori, éramos frequentadores do tradicional Bar do Tuzi, o primeiro da família, e encostado na lateral dos muros do mais antigo grupo escolar de Capão Bonito.
No domingo da palestrino, minutos antes da partida entre Palmeiras e Chapeoense – a última do time catarinense antes da fatalidade – resolvi dar uma volta para sentir o clima futebolístico na cidade, e óbvio, não poderia deixar de passar pelo bar alviverde mais tradicional de Capão Bonito, o Tuzi I.
Lá estavam concentrados dezenas de palmeirenses aguardando o início do jogo, que seria acompanhado através de um improvisado telão na parede do estabelecimento.
A mobilização me fez recordar de um grande amigo de meu pai, o saudoso italiano Ferdinando Tuzi.
Naquela gostosa adolescência na escola Jacyra, saborear as calorias dos salgados do Bar Tuzi I era rotina.
Numa dessas rápidas boquinhas, eu ainda meninão, vi entrar no bar um sujeito desconhecido e que tinha um figuro estilo maltrapilho e o seu Ferdinando não pensou duas vezes para tirar uma casquinha.
Ao invés de seguir a tradicional linha de atendimento, o saudoso italiano gameleiro soltou imediatamente: “Fala corintiano”!
Por essas e outras que um Corinthians e Palmeiras é tradição.
Francisco Lino é jornalista.