Dizem que a linguagem do futebol é um idioma universal. Mudam os sotaques, as expressões, mas as reações de cada torcedor, até mesmo de cada habitante deste mundo, formam uma espécie de dicionário comportamental único no planeta, inclusive em Capão Bonito, onde encontramos um cidadão nascido na cidade de Chapecó e que está há mais de 30 anos em solo gameleiro, o empresário Jaime Tozzo, que nos recebeu em sua residência, localizada no início da rua General Carneiro, para expressar um pouco de sua lamentação com o acidente que acabou cessando o sonho de muitos de seus conterrâneos.
Além do vínculo umbilical com a cidade de Chapecó, Jaime Tozzo também é tio do atual presidente interino do time do Chapecoense, Ivan Tozzo, que substitui o então presidente Sandro Pallaoro, também vítima da tragédia com o avião que levava o time à Colômbia.
Assim que Jaime Tozzo nos abriu as portas de sua casa, por sinal muito bem decorada com madeira e granito Capão Bonito (Red Capão), para essa entrevista exclusiva, procurei analisar cada gesto comportamental que expressasse o sentimento de la-mentação com a tragédia com a equipe de futebol de sua terra natal.
Antes de iniciarmos o bate papo, Tozzo sentou-se calmamente num confortável estofado e seu silêncio até aquele momento, refletia a dor causada pela tragédia com o time da Chapecoense. Ele também recordou os momentos de infância e adolescência em Chapecó e falou sobre o crescimento da cidade nessas últimas décadas. “Quando deixei Chapecó, a cidade era como Capão Bonito, tinha aproximadamente 50 mil habitantes, e hoje, graças ao seu espírito empreendedor, a cidade cresceu e hoje tem mais de 200 mil habitantes”, comentou.
Jaime Tozzo tem 67 anos e é filho do casal FerminoTozzo e Julieta Sartor. É casado com Marilde Tozzo e pai de Juliane e Jaime Tozzo Júnior. Tem descendência italiana, mas foi em Chapecó que herdou a alma de desbravador e empreendedor. Estudou num colégio de padres sediado numa cidade que faz divisa com Chapecó, Erechim, no Rio Grande do Sul.
Em 1967 deixou a terra natal e decidiu ir em busca de novas oportunidades no Estado de São Paulo. Chegou primeiro em São Miguel Arcanjo, onde, inclusive, concorreu ao cargo de prefeito pelo antigo MDB. No ano de 1978 trocou São Miguel por Ribeirão Grande iniciando novos investimentos no setor madeireiro e florestal.
Dividia sua atuação empresarial com a paixão pela política. Mesmo ainda Ribeirão Grande sendo distrito de Capão Bonito no início da década de 80, disputou e conquistou uma vaga na Câmara Municipal de Capão Bonito. Como vereador, foi um dos responsáveis pela emancipação de Ribeirão Grande.
Com o negócio madeireiro em expansão, Tozzo mudou-se para Capão Bonito, onde também se elegeu vereador, presidente da Câmara e concorreu a prefeito nas eleições de 1992.
Apesar de ter construído essa bela e referencial trajetória em Capão Bonito e Ribeirão Grande, seu coração também chora com a tragédia de Chapecó.
“É minha terra e nos abala muito. Nunca esqueci a terra onde nasci. Para um filho que nasceu lá, como eu, o drama é grande. Deixo aqui os meus sentimentos a todos os conterrâneas, aos amigos e familiares das vítimas”, finalizou.