A Justiça além dos autos

Organizado pela então Ministra Nancy Andrighi “A Justiça além dos Autos” publicação editada na internet é um refolgo da labuta diária pode (e deve) ser um serviço da memória, sobretudo, dos casos dramáticos e pitorescos experienciados pelos Juízes do Brasil afora …Didaticamente, esses acasos relatados na excelente publicação nos mostram que a espontaneidade da vida é sempre maior que as nossas expectativas.
– “O prazer de relembrar, com a sensação do dever cumprido e bom humor, é como cantar, e, como nos ensinou o maestro Villa-Lobos, “um povo que sabe cantar está a um passo da felicidade”, afirma a Ministra.
Nancy Andrighi lembra que a internet que encurta distância e unifica procedimentos e não consegue deletar situações e casos próprios do relacionamento social, os quais merecem ser divulgados e ponderados numa demonstração de que as emoções jamais cederão lugar às máquinas e às técnicas da modernidade.
São relatos, ou verdadeiros testemunhos, vivenciados por Juízes no exercício de suas nobres missões e que pretendemos revelar aos leitores, na forma original. O caso de hoje trata de adoção de um menino:
Haverá Verso Mais Lindo?
“É quarta-feira. Acabaram-se as audiências. O expediente ainda não acabou.
Um pequeno menino, de uns três meses, na Casa Lar, está à espera de um pai e de uma mãe.
É hora de vestir as asas do anjo Gabriel e sair à procura de uma família.
Lá vou eu!
Apanho o telefone e ligo para o primeiro da lista de habilitados à adoção.
O sotaque tem um quê de alemão.
É o avô paterno.
– Boa tarde!
Gostaria de falar com o fulano de tal.
– É o meu filho. Ele está descarregando milho. É uns 60 metros daqui. Ele liga em seguida.
– Eu espero.
O rapaz chega ofegante.
– Boa tarde! Meu nome é Mario Maggioni. Sou Juiz.
– Eu sei. Conheço-o dos encontros do Grupo DNA da Alma.
– Tenho um menino.
Foi-se a voz do homem.
Ouço ao longe uma cantile-na de milhos e espigas.
É mais fácil descarregar milho que conceber um filho.
O anjo Gabriel deveria treinar um pouco mais antes de dar estas notícias.
– Amanhã eu trabalho. Podemos ir conhecê-lo ele na sexta-feira?
– Quanto antes, melhor.
No dia seguinte, às 11 horas da manhã, tocou o telefone.
Era o homem:
– Doutor, é o menino mais lindo do mundo!
Às 13 horas, recebi o casal. Contaram que passaram a noite em claro.”
Juiz de Direito Mário Romano Maggioni Farroupilha/RS
(A JUSTIÇA ALÉM DOS AUTOS | 361)

Antonio Amaral Queiroz Filho – Advogado

Veja também