O Brasil e talvez o mundo, não aguentam mais seus políticos. Aqui, nos EUA, na Europa e até mesmo no Iraque, ninguém mais suporta seus representantes e governantes. Apesar dessa turbulência histórica na política, há algumas raridades nesse meio como a Angela Merkel na Alemanha, o Justin Trudeau no Canadá e o próprio Putin na Rússia, que vem ganhando pontos importantes no cenário mundial pelos cálculos precisos no xadrez geopolítico.
No Brasil, se o “Brimo” de Tietê efetivamente assumir a Presidência da República, o ex-governador de São Paulo e atual senador José Serra (PSDB) será uma peça chave, como já vem sendo, e terá à sua disposição os instrumentos necessários para se consolidar como uma figura importante no cenário nacional e até mesmo internacional, caso assuma o comando do Ministério das Relações Exteriores.
Além disso, se o país sair da UTI com Temer, Serra usará toda a sua habilidade e experiência política para se tornar um forte candidato a presidente em 2018, porém, pelo PMDB. Com essa divisão de alas, o PSDB está perdendo a chance de se tornar uma alternativa política e partidária para o país. Com isso, entre uma costura e outra, Serra vai caseando um posicionamento relevante na política tupiniquim.
Porém, como ainda há muita lenha para queimar até 2018, retornemos ao processo eleitoral de 2016, que apresentará muitas novidades, principalmente na captação de recursos.
As campanhas serão modestas, pelo menos no papel, a não ser que milhares de pessoas físicas se tornem, de repente, filantropos da causa política. Quem abusar da grana poderá ganhar e não levar.
A Lei nº 13.165 também introduziu limites de gastos para este ano, aplicando um percentual redutor em relação ao que foi gasto nas últimas eleições municipais. No caso dos candidatos a prefeito o limite será de até 70% do maior gasto declarado nas eleições de 2012 e isso vale de alerta.
O TSE também já editou uma resolução com o limite de gastos de cada município brasileiro. Em Capão Bonito, o teto será de até R$ 123 mil para os candidatos a prefeito e apenas R$ 11 mil aos postulantes a vereador. No município de Ribeirão Grande, a prévia é de até R$ 27 mil para os candidatos a prefeito e míseros R$ 4.200,00 para vereador. Tudo indica que teremos uma enxurrada de denúncias que inundará os cartórios eleitorais espalhados pelo país.
Além das novas regras, surge também uma questão importante: “É possível fazer campanha sem dinheiro?”. Claro que sim, basta substituir a falta de recursos legais pela inteligência e por uma equipe qualificada e estratégica para auxiliar o candidato na condução da campanha “amassa barro”.
O ex-presidente João Goulart também nos traz várias lições. Fazendeiro rico que era, não dependia dos benefícios da política.
Patrão de centenas de trabalhadores rurais que atuavam na criação de gado de corte na imensa fazenda da família, Jango, assim apelidado pela mãe Dona Tinoca, gostava de almoçar sentado no galpão com os funcionários e dispensava o conforto da Casa Sede. Ressalta-se que nessa época não passava pela cabeça de Jango ingressar na política. Ele era simples e humilde por natureza.
De repente, virou amigo pessoal de Getúlio Vargas e se tornou um dos colaboradores diretos da eleição que reconduziu o ex-presidente do Estado Novo ao Palácio do Catete. Foi nomeado assessor direto, dirigente do PTB e em seguida Ministro do Trabalho. No posto, virou o Ministro do Povo, pois, trocou o gabinete ministerial pelo contato direto com a classe trabalhadora. Viajou o país inteiro e conheceu de perto a realidade dos trabalhadores brasileiros no início da década de 50.
Prevendo um possível sucessor de Vargas, a imprensa conservadora, liderada por Chateaubriand e Carlos Lacerda, iniciou ataques contínuos a João Goulart. Mesmo com a propaganda negativa dos jornalões da época, Jango conquistou o povo mais simples.
Goulart desmistificou a imagem da autoridade pública acabando com qualquer tipo de cerimonial.
Até sua nomeação, era quase que impossível conseguir uma audiência com o Ministro de Estado. Tudo mudou a partir de Jango e ele chegava a atender centenas de pessoas diariamente, das quatro da tarde até meia-noite.
Os domingos de Jango eram também de trabalho. Num deles, os moradores de Ramos, no Rio de Janeiro, bairro afastado e conhecido por sua pequena praia, convidaram o ministro para almoçar.
E lá chegou Goulart de short e sem camisa, sorridente, pronto para saborear a comida preparada pelas donas de casa do bairro e conversar com as pessoas e desse episódio, extraímos a lição: “A maior forma de comunicação de Jango era a sua capacidade de trabalhar, assistir, de ouvir e sua paciência”.
Sigam o exemplo de Jango e dispensem os palpiteiros e a grana suja!
Francisco Lino é Jornalista.