Cerveja preta

O poder da internet às vezes me assusta. A comunicação e o feedback são medidos em questão de frações de segundos.
O susto ainda é maior para os antigos telégrafos como meu amigo Armodio Carvalho, mais conhecido com Seu Didi, que passou boa parte da sua vida facilitando a comunicação de muitos capão-bonitenses traduzindo os famosos códigos morse.
Mas não pensem que por ter sido um exímio telégrafo, o Seu Didi está desconectado das novas tecnologias da comunicação. Apaixonado por futebol, ele acompanha tudo, principalmente quando o assunto é Corinthians, pela sua moderníssima smartv e de altíssima resolução 4 k, interligada à inter-net via WiFi.
Do jeito que a comunicação avança, logo teremos que editar um dicionário exclusivo para a linguagem tecnológica. Saindo do WiFi do meu amigo Didi, partimos para a internet 3G do meu smartphone.
No último domingo, foi graças à internet 3G que eu e meu amigo e poeta Juraci Braz das Chagas conseguimos nos conectar à cidade de Berlim, onde seu sobrinho Rafael Mancebo, filho de sua irmã Alice e de seu cunhado Percio Mancebo, ministrava uma palestra internacional sobre Direito e Arte.
Novamente sentados sob o balcão da tradicional padaria Bechara, Juraci me apresentou um impresso extraído do Face-book pelo nosso amigo Joubert Galvão e que mostrava dados sobre a referida palestra internacional na cidade de Berlim.
Num desses festivais operísticos europeus que tive o privilégio de acompanhar, uma das cidades que conheci foi Stuttgart, bem próximo de Berlim, e por isso, tenho legitimidade para afirmar: é longe!
Porém, o meu 3G conseguiu quebrar essa barreira que separa Capão Bonito da capital alemã.
Eu e o Juraci conseguimos conexão direta com Berlim através do Messenger do Face-book.
No inbox desta rede social, encaminhei uma mensagem de saudações e congratulações ao querido Rafael Mancebo. Imediatamente, nos respondeu e nas singelas palavras, demonstrou todo o carinho que tem por Capão Bonito.
“Acabamos de encerrar o Congresso de Direito e Arte. Eu trago o orgulho de mencionar a sabedoria caipira para explicar o que é bem viver”, disse se referindo a nossa querida Capão Bonito.
Ainda na conversa internacional, ele mencionou todo o carinho que sente pelo tio game-leiro: “Agradeça em meu nome o tio Juracy, que sempre me estimulou aos estudos. Meu sucesso é um pouco do sucesso dele também, assim como da família e da cidade de Capão Bonito, que tem pensadores e repentistas geniais. A influência do meu tio Juracy nos meus estudos é maior do que ele pensa”, colocou.
Foi um chacoalho emocional no tio “Juracy”, mas o que mais me chamou a atenção foi a citação final. Mesmo convivendo quase que diariamente com o poeta “Juracy”, nunca soube de seu gosto refinado por cerveja preta.
Nas viagens que fizemos por aí, as bebidas solicitadas se limitavam ao Campari e a um whisky escocês acima da conserva de 12 anos.

Francisco Lino é jornalista

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