No dia 20 de novembro, o Brasil celebrou o Dia da Consciência Negra, uma data de reflexão sobre a luta, resistência e contribuição da população negra ao longo da história do país. Instituída oficialmente em 2003, a data só passou a ser feriado em alguns estados e municípios a partir de 2011. Escolhido em homenagem a Zumbi dos Palmares, um dos maiores líderes negros da história do Brasil, o dia marca a resistência contra o sistema escravista. Zumbi, que simboliza a luta pela liberdade e pela dignidade do povo negro, foi assassinado em 20 de novembro de 1695.
O Dia da Consciência Negra nos convida a refletir sobre as desigualdades históricas que ainda persistem. Embora haja avanços em diversas áreas, a população negra continua enfrentando discriminação estrutural e uma grave falta de oportunidades. O racismo, presente em várias camadas da sociedade, ainda tenta minimizar a importância da cultura africana, perpetuando estereótipos e silenciando sua riqueza.
Estudos recentes ilustram claramente as disparidades. Segundo dados do IBGE, 56% da população se identifica como negra (pretos ou pardos), mas entre os mais ricos, os negros representam apenas 17,8%. Por outro lado, eles são 75% dos mais pobres e compõem 65% da população carcerária do país. Além disso, pesquisas indicam que os negros enfrentam uma taxa de condenação maior do que os brancos em casos de posse de drogas, mesmo sendo apreendidos com quantidades menores. Esse tratamento desigual também é visível nas abordagens policiais: 76% das vítimas de homicídios cometidos por policiais são negras.
No mercado de trabalho, os negros continuam a enfrentar barreiras. Em média, ganham R$ 1.200,00 a menos do que os brancos e essa disparidade se acentua em cargos de liderança. O desemprego também afeta desproporcionalmente a população negra, que representa mais de 60% dos desempregados no Brasil.
O racismo está tão incorporado à cultura brasileira que se manifesta até na linguagem. Termos como ‘da cor do pecado’, ‘mulato’ , ‘humor negro’ e ‘cabelo ruim’ (para se referir ao cabelo crespo), são vestígios do período da escravidão, que continuam presentes no dia a dia, reproduzindo preconceitos profundamente enraizados.
A cultura religiosa de matriz africana também sofre com a discriminação. Embora a Constituição garanta a liberdade religiosa, as religiões afro-brasileiras, como o candomblé e a umbanda, enfrentam constantes perseguições. Na década de 1930, essas religiões foram criminalizadas e até hoje se observam episódios de vandalismo contra terreiros e templos, um reflexo do racismo religioso que ainda persiste na sociedade.
O Dia da Consciência Negra, portanto, é uma oportunidade não apenas para lembrar a resistência e as conquistas da população negra, mas também para confrontar as desigualdades que ainda existem, convidando-nos a construir um país mais justo e igualitário. O caminho é longo, mas a luta pela igualdade continua e o reconhecimento das contribuições da população negra, são fundamentais para o avanço da sociedade brasileira.