Tornar a monocultura de eucalipto um elo para conectar fragmentos nativos de mata e formar corredores ecológicos é o caminho encontrado pela indústria de celulose, papel e madeira para reverter a crença de que os plantios são como “desertos verdes”.
Novas práticas no campo abrem mão de resultados produtivos para encarar o desafio. “No entorno das reservas não colhemos eucalipto de uma só vez para manter a estrutura da floresta alta, permitindo a circulação da fauna”, explica Ana Paula Pulito Silva, consultora de gestão ambiental da Fibria.
Outra estratégia para atrair a fauna é manter um sub-bosque de vegetação nativa entre as fileiras do plantio.
Nas terras da empresa no Espírito Santo, por exemplo, a iniciativa permitiu o acesso de antas a recantos dificilmente alcançáveis sem o eucalipto. “Os pedaços de mata natural que restaram na região, após a antiga ocupação por pastagens, não são suficientes para proteger a biodiversidade”, argumenta a consultora, ao lembrar a importância de se descobrir que papel tem o eucalipto no planejamento da paisagem.
“É claro que nessas áreas a diversidade das espécies nunca será exatamente como na floresta natural, onde a riqueza biológica é reconhecidamente maior”.
Estudos comprovam que os plantios podem ajudar. O setor de celulose e papel é dono de 2,2 milhões de hectares de florestas plantadas para fins industriais e 2,9 milhões de hectares nativos que se destinam à conservação dos processos ecológicos, dentro do conceito de “mosaico florestal”. Forças de mercado, como o selo socioambiental exigido por grandes compradores lá fora, obrigam o estabelecimento de áreas de alta prioridade para conservação e o monitoramento da fauna.
No caso da Fibria, os resultados de campo são armazenados em banco de dados contendo 680 espécies de aves e 132 de mamíferos.
Há espécies menos exigentes que utilizam o eucalipto como área de vida.
Enquanto em Capão Bonito, as iniciativas focam a conservação do papagaio-verdadeiro, na região de Três Lagoas (MS), onde a empresa mantém cultivos no entorno de uma unidade industrial de celulose, os estudos se concentraram nas espécies de animais mais sensíveis, indicadoras de mudanças no ambiente.
Detectou-se que o eucalipto abriga uma fauna de borboletas frutíferas tão rica e abundante quanto a existente na mata nativa de Cerrado.
O mesmo ocorre com morcegos e pequenos mamíferos. No Vale do Paraíba, em São Paulo, biólogos identificaram surpresas nos plantios de eucalipto cercados por Mata Atlântica, como o raríssimo cachorro-vinagre, espécie de alta exigência ecológica.
A conservação aumenta o fluxo de animais e exige medidas para integrar a população local e evitar a caça.