O “Novembro Azul, o exame de toque retal e a Psicanálise

Walter Martins de Oliveira – Psicanalista e Doutor em Educação

 

Na sequência dos meses coloridos, chegamos ao “Novembro Azul”. No dia 17 de novembro do ano de 2003, instituiu-se, na Austrália, o Dia Mundial do Combate ao Câncer de Próstata incentivando o movimento “Novembro Azul” com o objetivo principal de chamar a atenção para a prevenção e o diagnóstico precoce das doenças que atingem os homens. Muitos homens ainda resistem em fazer o exame, especialmente, por falta de informação, o que provoca esquivamento ou postergação. O câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens brasileiros. Ao reprimir e ocultar frustrações, sentimentos, emoções e angústias, tudo transcorre para que essa tensão seja “vazada” de alguma forma no próprio corpo. Quanto à referida resistência e esquivamento, muito comum em grande parte dos homens, faz-se necessário considerar igualmente as questões socioeconômicas, em que pessoas da Classe Trabalhadora têm extrema dificuldade em repensar seu estilo de vida enquanto ferramenta terapêutica, sem tempo e sem condições financeiras para se olhar, para ter um hobby ou um momento em que possa, efetivamente, cuidar de si. Mas, a Psicanálise aponta que o evitamento, neste caso, também pode ocorrer por se tratar de uma questão muito confidencial e repleta de tabus, uma vez que a prevenção e o diagnóstico do câncer de próstata necessitam da realização do toque retal. Oportunamente é preciso ressaltar que a única forma de garantir o diagnóstico precoce da cura do câncer de próstata é a realização do exame de toque retal e do PSA. Portanto, há que se perguntar: qual é a razão do medo? Por que essa insegurança? A teoria psicanalítica, de saída, ilustra como hipótese a seguinte resposta: o indivíduo pode ter uma homossexualidade oculta, enrustida e conviver com o receio de, na realização do toque (toque retal), venha a sentir prazer. Uma vez assim, trata-se de um recalque (Mecanismo de Defesa mental em que se empurra para o inconsciente desejos e memórias que não são aceitos conscientemente); há uma preocupação com “o que vão pensar de mim?”. Nesta condição, é necessário ponderar sobre o que é mais importante: a fantasia ou a saúde? Outra hipótese: a pessoa se recusa a fazer o referido exame, não pela insegurança quanto à sua masculinidade, mas pelo receio em descobrir algo pior referente à sua saúde; trata-se de um sujeito que carrega consigo pensamentos negativos automáticos, alimentando sua imaginação sempre com o que há de mais nefasto. Em qualquer hipótese, é preciso buscar um especialista na área. Finalmente, em vista de uma boa qualidade de vida para si, que se reverberará para todos e todas os seus e para toda a sociedade, há que desmistificar o exame de próstata, tirar dele o hediondo, o vergonhoso, o pavoroso e entendê-lo como algo natural e necessário.

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