Minhas manhãs de domingo continuam maravilhosas. Apesar da rotina do tradicional cafezinho na mesma padaria e do bate papo com os integrantes do bom e velho Senadinho, a cada encontro surgem histórias interessantes que mexe com nosso processo intelectual e emocional.
Sinto orgulho e digo, convicto, que sou privilegiado por conviver com esse seleto grupo de senhores mais velhos.
Às vezes, em minhas reflexões, chego a sentir pena de alguns amigos que se concentram apenas no prazer dos bens materiais e no lucro a qualquer custo.
Não sabem eles, coitados, que ao se limitarem a esse pobreza de espírito, perdem o que de melhor a vida oferece.
Neste feriado da República, segui o mesmo rito dominical e ao encostar os braços sobre o balcão libanês solicitando meu tradicional cafezinho expresso sem açúcar, recebo a prazerosa companhia do meu amigo Alfredo Messias de Freitas.
O papo sempre é longo, mas compensador.
Iniciamos a conversa re-lembrando o dia 15 de novembro de 1889. Antes que debochem, ressalto que nenhum de nós estávamos presente no ato histórico, mas como apaixonados pela política, a leitura constante torna-se obrigatória. Rimos com a famosa frase que Marechal Deodoro da Fonseca citou ao ingressar no Ministério da Guerra na tarde que entrou para a história do país. Ao invés de anunciar o fim do Império como líder dos republicanos, puxou um “viva” ao imperador Pedro II. São os contraditos da história!
Os temas são os mais variáveis possíveis. Vamos do Oia-poque ao Chuí em questão de segundos, tamanha é a alternância dos assuntos.
Nessas variáveis temáticas, meu companheiro de café contou um fato que merece a devida citação na imprensa escrita.
Aos 12 anos de idade, Alfredo teve a honra de trocar algumas palavras com o ex-presidente João Goulart, o Jango, quando o político ainda exercia a função de Ministro do Trabalho de Getúlio Vargas.
Naquela época, início dos anos 50, Capão Bonito era passagem obrigatória para chegar-se à região Sul do Brasil.
A famosa estrada velha foi então o elo de ligação de Jango com o nosso amigo Alfredo Messias de Freitas, que ainda menino, trabalhava num pequeno açougue que fornecia carnes ao restaurante do Hotel Regina, o mesmo de hoje.
E foi com um pacote de carnes embrulhadas em papel jornal que ele conseguiu conversar com uma das maiores personalidades políticas deste país.
Antes de entregar o produto aos cozinheiros, Alfredo passou pelo salão principal do hotel e viu um único homem de bombacha saboreando o reconhecido café colonial do Regina. Era o Ministro do Trabalho e o futuro comandante do Brasil, que o chamou e lhe entregou um singelo cartão oficial. “Menino, se aproxime. Leve esse cartão como recordação”, disse.
Sou ou não, um privilegiado?
Francisco Lino e jornalista