Walter Martins de Oliveira, Psicanalista e Doutor em Educação
Em princípio, para falarmos de depressivos e neuróticos, necessitamos, mesmo que de modo resumido, esclarecer neuroses e depressão (ou, depressões). Neuroses, de acordo com o CID-11 (11ª revisão da Classificação Internacional de doenças), 2022, e do DSM-5 (5ª versão do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais), 2013, são transtornos da mente (agitações, inquietações, confusões mentais e visão distorcida da realidade). Portanto, neuroses são conflitos interiores que provocam no indivíduo um distanciamento do real, graças às suas angústias internas. Originam-se dos confrontos entre o que a mente deseja e o que a realidade impede, proíbe. Melhor explicando, quando uma pessoa investe energia em um determinado impulso (satisfação e/ou prazer), mas é impedida em sua conquista, essa energia não desaparece; ela será recalcada, contida, reprimida, e se esse recalque não for canalizado satisfatoriamente (sublimado, por exemplo), provocará conflitos intrapsíquicos que gerarão neuroses que, por sua vez, se corporalizarão em doenças. Hoje, praticamente não se usa mais o termo neurose e sim, transtorno, síndrome, fobia. Exemplificando: transtorno de ansiedade generalizada, síndrome de pânico, fobia social, depressão etc. Quanto à depressão, na visão de Blatt et al. (1976), há dois tipos: uma depressão focada primeiramente no relacionamento interpessoal em questões tais como, a dependência, desamparo, frustração, sentimentos de abandono e de perda, ligada à configuração anaclítica da personalidade (indivíduo extremamente dependente de outrem); e uma depressão que deriva de um juízo crítico e severo do superego (indivíduo extremamente exigente para consigo mesmo), que se foca primeiramente em questões relativas à autocrítica, autoestima e sentimentos de falha e culpa, ligada à configuração introjetiva (indivíduo extremamente ligado ao seu mundo interior). Ela pode surgir também em consequência de comorbidades, também chamadas de “doenças de base”, tais como, podemos citar: doença renal crônica, doença cardiovascular, infarto agudo do miocárdio etc. Para Angerami (2021), igualmente ela pode aparecer em consequência do estágio atual do sistema capitalista em sua configuração neoliberal, que se materializa extremamente perversa, que exclui e deprecia o sujeito e o profissional, desaguando numa realidade alarmante de depressão coletiva. É preciso ressaltar que há alguma diferença entre o indivíduo neurótico e o depressivo. Nesse sentido, podemos nomear: o neurótico é dominado pela ansiedade, enquanto o depressivo é dominado pela tristeza e sentimento de perda. O neurótico pode ver perigos onde não existe, enquanto o depressivo pode ver desespero e depreciação onde não há. O neurótico tem seu ego (eu) relativamente forte, consegue se adaptar à realidade, apesar dos sintomas e dos conflitos internos. O depressivo tem seu ego frágil, vulnerável, recolhido em seus pensamentos e sentimentos, puxado para dentro de si mesmo, com sentimento de desamparo, desvalorização e pensamentos suicidas. Portanto, neuroses e depressão simbolizam diferentes maneiras de o indivíduo trabalhar seus conflitos e perdas internas; têm distintas características e manifestações clínicas próprias. Se você sente que está sofrendo por alguma dificuldade em sua mente e em seu corpo nesse sentido, procure ajuda de um profissional.