É o fogo do inferno

José Renato Nalini é Reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras

 

Cientistas da União Europeia concluíram que 2023 foi o ano mais quente em 125 mil anos! Prestaram atenção a isso: em cento e vinte e cinco mil anos, não houve outro que superasse a temperatura que experimentamos em 2023!

Se não for suficiente para convencer os humanos de que estamos à beira do colapso, nada mais o será. Morreremos quentinhos, como os sapos dentro do caldeirão que não percebem que o fogo fará a água ferver.

Vozes mais atentas inclusive já dizem que não se deve mais falar em “aquecimento global”, senão em “ebulição global”. A falta de juízo faz com que as emissões dos gases venenosos causadores do efeito estufa continuem e aumentem.

Adianta fazer COPs se os avisos, cada vez mais sérios, que a natureza emite, não são levados a sério?

A COP28, em Dubai, embora tenha a presença do Papa Francisco, o Papa Ecológico, não por coincidência a invocar o nome de Francisco de Assis, o “homem do milênio” e o Pai da Ecologia, terá, para contrabalançar, um empresário do ramo dos combustíveis fósseis.

O calor histórico se antagoniza com a frieza da humanidade, inapta a cobrar dos governos e dos maiores emissores uma inacreditável conversão, pois a trilha perseguida conduz à catástrofe derradeira.

Antes disso, ainda experimentaremos fenômenos extremos a cada dia mais destrutivos. Inundações, ondas de calor, incêndios. Tudo devastador e tudo incontrolável. Tanto que já não há seguros para furacões, para inundações e para incêndios. As seguradoras têm um limite para poder funcionar. E quando os segurados se comportam de maneira irresponsável, o contrato de seguro se isenta de suprir condutas inconsequentes.

Haja acordos, haja tratados, haja doutrina e legislação capaz de fazer frente àquilo que é perfeitamente previsível, evitável e contornável. Mas quando a vontade humana prefere exaurir os recursos da Terra e abreviar a experiência desta passagem que vai terminar mais cedo do que se poderia imaginar, tudo é insuficiente.

Em outros tempos, a população estaria em pânico. Hoje, na irracionalidade imperante, a comprovação de que 2023 é o ano mais quente entre 125 mil anteriores é destinada a um povo surdo, cego e insano em sua marcha para o fim. O inferno chegará antes mesmo da despedida deste ciclo existencial.

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