É impressionante como os destinos e as histórias se cruzam, principalmente no universo político. Há muito tempo não ocorria em Ca-pão Bonito uma eleição tão acirrada, disputada voto a voto.
A última que me recordo foi em 2000, quando o então prefeito eleito, Roberto Tamura, venceu seu arquirrival Junior Tallarico, por uma diferença de apenas 78 votos, num colégio eleitoral de mais de 25 mil votos válidos.
A primeira coincidência vem com os candidatos de 2000 e 2016. Há 16 anos disputaram o cargo de prefeito Roberto Tamura, Junior Tallarico, Julio Fernando e Gerson Hussar. Dos quatros personagens daquele pleito, dois também foram protagonistas neste ano: Roberto Tamura e Gerson Hussar.
Apesar de não ter sido candidato, Julio Fernando exerceu também um papel importante na disputa encerrada no último domingo. Com um governo bem avaliado, acima de 70% de aprovação, o atual prefeito consolidou sua força política e fez o sucessor na Prefeitura.
O quarto personagem desse cruzamento de candidatos e épocas, Junior Tallarico, apareceu apenas no lançamento da candidatura de Gerson Hussar com aquelas velhas e desgastadas piadas. Apesar de bem humoradas, as tiradas de Tallarico se mostraram ineficaz eleitoralmente, apenas comprovam a dessintonia do ex-prefeito com o eleitorado gameleiro.
A vitória de Marco Citadini não foi apenas o reconhecimento, a consagração da força do grupo liderado por Julio Fernando. O resultado apertado de domingo teve um sabor especial a velha guarda do antigo MDB, também chamado de Manda Brasa, e o prefeito eleito fez questão de homenagear essa geração no discurso da vitória.
A geração do Manda Brasa teve a frente políticos como Faus-tino Cesarino Barreto, Joaquim Machado, Roque Citadini, José Leonaldo (Zé Vovô), João Carlos Venturelli, Alfredo Messias de Freitas, Manoel Gonçalves Faia, Marcolino Nunes, Juraci Braz das Chagas e inclusive Antonio Enei Neto, avô do vereador mais bem votado de 2016, Matheus Antonio Enei Francatto.
É de fato, um confronto de coincidências. Também nesta semana, o “Senhor Diretas”, Ulysses Guimarães, comemoraria 100 anos se vivo estivesse. Com uma brilhante carreira política, marcada pelos longos discursos, cito aqui um trecho de seu pronunciamento em abril de 1972, ao assumir a presidência nacional do MDB: “Os que se filiam ao Movimento Democrático Brasileiro e, guiados por sua bandeira, são investidos em postos de deliberação, direção, ação parlamentar ou cooperação, fazem-no espontaneamente e, voluntariamente, se comprometem com o objetivo magno de recolocar a democracia no comando político do país”, disse. Por fim, a última e a mais forte das coincidências. No mesmo ano da posse de Ulysses Guimarães na presidência nacional do MDB, o jovem estudante de Direito das Arcadas do Largo de São Francisco, Roque Citadini, retornaria a Capão Bonito para disputar a eleição para prefeito e posicionar o MDB no município.
Mesmo sem chance de derrotar um grupo tradicional liderado pelo ex-prefeito Abib Elias Daniel, Monsenhor Pedro José Vieira e Cornélio Batista, o jovem audacioso cumpriu sua missão pautada no discurso de Guimarães: “Recolocar a democracia no comando político do país…”.
Não tive a oportunidade de viver os tempos do Manda Brasa, mas ao chegar no tradicional comitê da rua General Carneiro no domingo da vitória foi impossível conter a emoção.
De um lado observo Juraci Braz das Chagas e Adélio Machado, filho de Joaquim Machado; no centro do palanque dois protagonistas tiraram de mim sinceras lágrimas de emoção.
Marco Citadini, irmão de Ro-que Citadini, e Matheus Antonio Enei Francatto, neto de Antonio Enei Neto, representam a primeira e legítima vitória do velho Manda Brasa!
Francisco Lino é Jornalista